.http://www.zshare.net/download/52808420f17574fd/Vejam esta relíquia , um vinil de uma transmissão de 1956, na qual o próprio Aldous Huxley narra sua obra “Brave New World” (Admiravel Mundo Novo), com a participação do magnífico Bernard Herrmann (quem curte os filmes do Alfred Hitchcock conhece bem o seu trabalho, nas trilhas sonoras). “Um estado totalitário verdadeiramente «eficiente» será aquele em que o todo-poderoso comitê executivo dos chefes políticos e o seu exército de diretores terá o controle de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão.” Admirável Mundo Novo (Brave New World na versão original em língua inglesa) é um livro escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932 que narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual. As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família também não existe. O personagem Bernard Marx sente-se insatisfeito com o mundo onde vive, em parte porque é fisicamente diferente dos integrantes da sua casta. Num reduto onde vivem pessoas dentro dos moldes do passado (uma espécie de "reserva histórica" - semelhante às atuais reservas indígenas - onde preservam-se os costumes "selvagens" do passado (que corresponde à época em que o livro foi escrito), Bernard encontra uma mulher oriunda da civilização e o filho dela, John. Bernard vê uma possibilidade de conquista de respeito social pela apresentação de John como um exemplar dos selvagens à sociedade civilizada.
O livro desenvolve-se a partir do contraponto entre esta hipotética civilização ultra-estruturada (com o fim de obter a felicidade de todos os seus membros, qualquer que seja a sua posição social) e as impressões humanas e sensíveis do "selvagem" John que, visto como algo aberrante, cria um fascínio estranho entre os habitantes do "Admirável Mundo Novo".
Aldous Huxley escreveu, mais tarde, outro livro, chamado Retorno ao Admirável Mundo Novo, sobre o assunto: um ensaio onde demonstrava que muitas das "profecias" do seu romance estavam a ser realizadas graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.
COMUNIDADE, IDENTIDADE E ESTABILIDADE. Assim começa o livro de Aldous Huxley, deixando bem claro em seu início todo o processo de criação e manutenção da sociedade daquela época. O livro se passa em 632 d.F. , uma época em que não haviam mais problemas, porque todos eram literalmente condicionados a pensar e viver. O modo de ser, de pensar, de agir, sentir, comportar-se foram sendo substituídos, as experiências pessoais foram dando lugar às experiências coletivas e houve um esmagamento da subjetividade: pensar era agora uma predeterminação social. Em seu inicio o livro descreve o processo de bokanosvskização,
“consiste essencialmente numa série de interrupções do desenvolvimento. Nós detemos o crescimento normal e, paradoxalmente, o ovo reage germinando em múltiplos brotos.”
Entre frascos, material genético, divisão de brotos, gêmeos idênticos, dezenas, vintenas, percebemos que esse processo é simplesmente um dos principais instrumentos de estabilidade social, mas o maior ganho desse processo não era a quantidade de gêmeos produzidos, mas que poderiam ser controlados os atributos físicos e mentais por meio da manipulação genética.
Então somos levados a Sala de Predestinação Social, onde aqueles embriões tantas vezes divididos eram determinados e divididos entre alfas, gamas, betas, deltas e ípsilons, o que corresponderia hoje às classes sociais. E quanto mais baixa era a casta, menos oxigênio era dado. O primeiro órgão afetado era o cérebro, em seguida o esqueleto. Pessoas pequenas, sem capacidade mental, nunca arquitetariam qualquer tipo de revolução social ou sequer sabiam o que era isso. O processo todo também tinha outro objetivo
“E esse – interveio sentenciosamente o Diretor – É o segredo da felicidade e da virtude: amarmos aquilo que somos obrigados a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar.”
Até que ponto amar isso tudo era correto? Mas nessa sociedade não havia o errado. O domínio de suas capacidades mental era sem sombra de dúvida, inexistente. Porque não havia o que dominar. O condicionamento era responsável por determinar o que devemos fazer, como pensar, o que vestir, como e porque agir. O condicionamento.
A hipnopedia dava aos habitantes as diretrizes necessárias para que a sociedade caminhasse a passos pré-determinados. Esse condicionamento fazia, por meio de inúmeras repetições, com que não houvesse descontentamento social. As castas era pré-programadas a “achar melhor” viver em sua casta a fazer o papel de outra.
“– Estabilidade – disse o Administrador – Estabilidade. Não há civilização sem estabilidade social. Não há estabilidade social sem estabilidade individual.”
Essa tão almejada estabilidade também se apresentava na economia. Uma sociedade como aquela, cheia de regras, diretrizes e necessidades não se podia deixar controlar por simples leis de mercado (como a de oferta e procura, por exemplo).
“Mais vale dar fim que consertar. Quanto mais se remenda, menos se aproveita.”
Comprar, comprar e nunca deixar de comprar. Assim era ensinado as pessoas. Comprar era uma satisfação geral. Do outro lado estavam os produtores. Pessoas e máquinas se confundiam na linha de montagem das grandes indústrias. Cada pessoa é especializada como uma formiga, cada um exerce sua função, vivendo unicamente para exercê-la, tendo sido condicionado a gostar disso. Essa era a educação, ela se chamava condicionamento.
“As pessoas crêem em Deus porque foram condicionadas para crer em Deus.”
A educação no futuro criado por Huxley era desprovida de ética religiosa, de valores como a família (a palavra “família”, “mãe” e “pai” eram tidas como obscenas), e a completa ausência de valores morais presentes na sociedade atual. E nesse ponto, entram os questionamentos de Bernard Marx, que não se aprofundam tanto devido ao seu condicionamento, mas que são um sinal de que mesmo o homem desse “futuro” ainda possui instintos e algum domínio sobre suas habilidades e capacidades mentais .
Distraíam-se com o tão almejado soma, uma espécie de droga entorpecente que os desconectava da realidade e os deixava permanentemente felizes. O soma era em si, o caminho mais fácil a seguir quando houvesse qualquer tipo de comportamento que não fosse prejudicial ao desenvolvimento como cidadão.
Mas em algum lugar, não muito longe dali, havia uma reserva de selvagens. Pessoas que ainda possuíam algumas características de nossa sociedade atual, como casamento, filhos (“hábitos repugnantes”), o Cristianismo, o totemismo, o culto dos antepassados, moléstias contagiosas e cujos sentimentos e emoções podem ser sentidos e vividos “incondicionalmente”.
Aí surge a figura do selvagem, que não pertence à sociedade em questão e que nutre um sentimento puro por Lenina, visto como uma afronta aos padrões da época e como uma aberração.
Tendo seu conhecimento sido basicamente da leitura das obras Shakesperianas, o selvagem possui uma vontade que lhe é intrínseco, a de conhecer e experimentar as sensações que William Shakespeare descreve com tanta perfeição e com tanto sentimento. Mas seus planos são “destruídos” quando chega à cidade e se depara com milhares de pessoas idênticas, pessoas trajando cáqui, outras verde, e percebe a triste ausência de emoções e sentimentos.
- “Oh, admirável mundo novo!”
John, o selvagem, apaixona-se por Lenina e sua atração causa-lhe sentimentos não percebidos anteriormente. Mas sua decepção vem logo em seguida ao perceber que o condicionamento às estruturas leva a Srta. Crowne à promiscuidade. Sua revolta é instantânea.
A essa decepção, John une a dor da perda de sua mãe e seus valores e origens são mais uma vez questionados por si mesmo. Refugiando-se nas palavras de Helmholtz, o selvagem busca respostas, embora elas sejam incrivelmente difíceis de encontrar.
“Uma das principais funções de um amigo é suportar (sob forma atenuada e simbólica) os castigos que nós gostaríamos, mas não temos possibilidades, de infligir aos nossos inimigos.”
Em busca de tantas respostas, John, acompanhado de Helmholtz e de Bernard, vê-se sentado a frente do diretor e travando um diálogo sincero e esclarecedor: a eles é explicado que a conduta deve seguir certos parâmetros para que se mantenha estabilidade. A subjetividade que ocasionaria certamente uma crise social, era tida como mudança e
“Toda mudança é uma ameaça à estabilidade.”
Mas John questionava: Todo esse condicionamento, todas essas regras lhe embrulhavam o estômago. Tudo isso em busca da felicidade. Mas por quê? Porque tudo isso? A felicidade realmente precisava ser comprada assim? Conceituava-se felicidade como um condicionamento fiel a tudo o que era pré-determinado pelas castas superiores e pela “Sua Fordeza”, seguir regras significava ser feliz.
“As pessoas são felizes, tem o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não tem medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não tem esposas; nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem.”
Seguindo as teorias de John Locke, a sociedade em questão levava a sério o fato de que o homem é uma “folha em branco” a ser escrita ao longo da vida, a teoria da tabula rasa, e sobre essa teoria firmara-se todo o processo que levava as pessoas a seguirem regras e parâmetros, baseado no que lhes fora previamente ensinado. E assim, eram “felizes”.
“A felicidade nunca é grandiosa.”
Essa foraclusão era tão imperceptível que as pessoas quando tentavam dar-se conta da realidade, viam que estavam mergulhadas e que não haveria saída.
“A felicidade é uma soberana exigente, sobretudo a felicidade dos outros. Uma soberana muito mais exigente do que a verdade, quando não se está condicionado para aceita-la sem restrições.”
Por fim. A Bernard e a Helmholtz restaram uma nova vida, um novo começo em uma sociedade longe dali.
“ - ... é bem o modo de os senhores procederem. Livrar-se de tudo o que é desagradável, em vez de aprender a suportá-lo. Se é mais nobre para a alma sofrer os golpes de funda e as flechas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um oceano de desgraças e, fazendo-lhes frente, destruí-las, mas os senhores não fazem nem uma coisa nem outra. Não sofrem e não enfrentam. Suprimem, simplesmente, as pedras e as flechas. É fácil demais.”
Ao selvagem, servir como experiência. Mas isso não era o destino que havia traçado a si mesmo. Não. John queria ser feliz.
“A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento.”
Assim termina o livro de Aldous Huxley, mostrando que nenhum sofrimento e nenhuma mudança podem afetar o sistema, ninguém ousaria tentar, ninguém permitiria que tentassem. O lema do Estado Mundial deve ser seguido à risca: COMUNIDADE, IDENTIDADE E ESTABILIDADE.
Por Wikipedia