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 As Charqueadas, parte III...

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MensagemAssunto: As Charqueadas, parte III...   As Charqueadas, parte III... Icon_minitimeQui Mar 06, 2008 5:53 pm

As próximas informações saíram da página da Charqueada Santa Rita...
(http://www.charqueadasantarita.com.br/)

As Charqueadas, parte III... Charquecomun05kc8

O Começo da História

No século 18, enquanto ocorria o ciclo econômico da mineração no Brasil envolvendo os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, havia uma crescente valorização do rebanho de gado existente no Rio Grande do Sul, introduzido pelos jesuítas no século 17. Os bois serviam para a alimentação e as mulas para o transporte dos mineradores.

Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará, sob a forma de carne de sol ou carne do sertão.

Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância


Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737.

Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates.

A Consolidação das Charqueadas



A consolidação das charqueadas, grandes propriedades rurais de caráter industrial, só se dá no século 19, às margens dos arroios Pelotas, Santa Bárbara, Moreira e canal São Gonçalo. O gado, matéria-prima, era proveniente de toda a campanha rio-grandense, introduzido em Pelotas através do Passo do Fragata e vendido na Tablada, grande local dos remates na região das Três Vendas.

Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como a Charqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque.

Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros.

Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila.

A Charqueada Santa Rita



A Charqueada Santa Rita, antiga Charqueada de Inácio Rodrigues Barcellos, construída em 1826 em estilo colonial, é parte importante da história da cidade de Pelotas, já que fez parte, segundo Gutierrez (2001), do Núcleo Charqueador Pelotense. Este Núcleo, de acordo com a autora, estendia-se, principalmente, entre as localidades do Retiro até a entrada do canal São Gonçalo, compreendendo o próprio Retiro, o Cotovelo, o Cascalho, a Boa Vista, a Costa, o Areal e o Atoladouro. A maior densidade de charqueadas e, conseqüentemente, de escravos, estava localizada entre a Boa Vista e o canal São Gonçalo: em torno de 15 estabelecimentos no Arroio Pelotas e oito no chamado sangradouro da Mirim.

A família Rodrigues Barcellos deteve o maior número de charqueadas, todas localizadas no final da descida do arroio Pelotas, entre a Costa e a Boca do Arroio, como conta Gutierrez (2001). A localização dos estabelecimentos da família Rodrigues Barcellos teve a seguinte ordem: nos dois terrenos iniciais da Costa, os empreendimentos de Boaventura Rodrigues Barcellos (atual Cabaña El Abolengo e arredores); na primeira parte do Areal, a charqueada de Inácio (atual Santa Rita) e uma das charqueadas de Cipriano Rodrigues Barcellos; nos Coqueiros, uma das charqueadas de Bernardino; na segunda parte do Areal, a outra propriedade do mesmo Bernardino; e, no Atoladouro, próximo ao Canal São Gonçalo, a segunda charqueada de Cipriano.

A Charqueada Santa Rita localizava-se entre as charqueadas de Antônio Gonçalves Chaves (atual São João) e a de Cipriano Rodrigues Barcellos. De acordo com Gutierrez (2001), nos inventários realizados em 1863, contavam-se, na Charqueada Santa Rita, 30 escravos, plantel mantido sem variações até a década de 80.
Foi na Charqueada Santa Rita que se instalou a primeira fábrica de enlatados de carne da cidade de Pelotas, denominada popularmente como Fábrica de Línguas. Tal empreendimento gerou o posterior desenvolvimento de frigoríficos na região, entre eles o Frigorífico Anglo, fundado por um grupo Britânico, o qual exportava carne enlatada para a Europa e outros mercados. Com o sucesso da Fábrica de Línguas, a Charqueada Santa Rita tornou-se talvez a única charqueada a manter atividade produtiva e lucrativa, enquanto o ciclo do charque decaía.

No começo dos anos 60 os herdeiros venderam a propriedade para Geraldo Mazza, o qual realizou benfeitorias, como o restauro do galpão à beira do Arroio Pelotas. Em 1988 foi adquirida pela família Cunningham, responsável pelo minucioso restauro da casa principal, entre várias outras melhorias na propriedade. A partir do ano de 2000 passa a ser propriedade da família Clark.

Por coincidência, Mr. Horace Griffiths, avô materno do atual proprietário, e Mr. Ernest Cunningham, avô paterno de Oliver Murray Cunningham, proprietário anterior, foram responsáveis pela instalação dos frigoríficos Anglo na América do Sul (mais especificamente na Argentina e Brasil) e, conseqüentemente, em Pelotas.

Hoje a Charqueada Santa Rita abriga o acervo do Museu do Charque e abre suas portas para visitação turística guiada, além de possuir uma charmosa e aconchegante pousada e um espaço amplo e diferenciado para a realização de eventos variados.

O Charque

O charque era utilizado também para alimento dos escravos (outro era o bacalhau) em todo o Brasil e nos países que adotavam o sistema escravista, sobretudo o Caribe (Cuba, principalmente). Do gado, se aproveitava tudo: o couro, o pó dos ossos para fertilizante, o sangue para gelatina, a língua defumada, os chifres para várias utilidades. Esses produtos eram exportados para toda a Europa e os Estados Unidos.

O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade", enfatiza o historiador Magalhães.

A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas.

Magalhães conta que os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência."

Em 1820, eram 22 charqueadas (depoimento de Saint-Hilaire) e, em 1873, 38. "Número máximo que encontrei, num relatório da Presidência da Província", complementa.

Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por ano. De acordo com as pesquisas de Magalhães, Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam.

O Fim do Ciclo do Charque

As causas do encerramento do ciclo do charque em Pelotas foram várias. Uma das principais, a abolição dos escravos, quando deixa de existir o verdadeiro consumidor do produto. Magalhães explica que a concorrência de regiões gaúchas que antes apenas produziam a matéria-prima também foi outro golpe contra os charqueadores locais. "Depois de 1884, fundaram-se charqueadas em algumas cidades da fronteira, porque nesse ano estabeleceu-se a linha férrea, que permitia o escoamento do produto até o porto de Rio Grande."
O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz".
Leitura Indicada



Apresentamos aqui algumas referências bibliográficas utilizadas na organização dos textos apresentados e que podem servir para um aprofundamento das questões aqui abordadas. Os quadros ao lado são de Debret e ilustram costumes da época.



Gutierrez, E.J.B. (2001). Negros, charqueadas e olarias: Um estudo sobre o espaço pelotense. 2ª edição. Pelotas: Ed. Universitária/UFPEL.

Leite, J.A.M. (2004). Xarqueadas de Danúbio Gonçalves: Um resgate para a história.Pelotas. Ed. Universitária/UFPEL.

Leon, Z. (1993). Pelotas: Casarões contam sua história. Pelotas: Gráfica D.M. Hofstäter.

Magalhães, M. O. (2000). Pelotas: Toda a prosa. Pelotas: Armazém Literário.

Magalhães, M. O. (2002). História e tradições da cidade de Pelotas. 4ª edição. Pelotas: Armazém Literário.

Marques, A. F. (1990). Evolução das charqueadas Rio-grandenses. Porto Alegre: Martins Livreiro.

Marques, A. F. (1992). A economia do charque. Porto Alegre: Martins Livreiro.

Osório, F. (1997). A cidade de Pelotas. (organização e notas de Mário Osório Magalhães). Pelotas: Armazém Literário.

Urbim, C. (2003). Os Farrapos. 3ª edição. Porto Alegre: Zero Hora

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